Por Wanderley Pereira
Depois de um grande estrago na imagem do Ceará e de um transtorno ainda maior na vida da população, o governo do Estado terminou negociando o fim da greve dos policiais e bombeiros militares, sem a presença do seu principal líder, o governador Cid Gomes.
Aliás, é lamentável que o governador, a quem caberia estar, como um general, à frente de todos os desafios amontoados pela crise que se arrasta há muito na segurança pública, preferiu esconder-se para alimentar o orgulho e vaidade de poder, deixando o Estado inteiro entregue a uma situação de pânico, como a que tivemos com a ausência total dos equipamentos de segurança nas ruas para enfrentar a criminalidade.
Não temos nada contra a pessoa do governador e torcemos para que ele faça o de melhor por nossa população tão necessitada, mas não podemos deixar de externar como cidadão a nossa indignação diante dos momentos cruciais que passamos. A capital e o interior do Estado foram expostos à ação das falanges criminosas e o trabalhador impedido de transitar livremente e trabalhar por absoluta falta de segurança.
Entre as manchetes registradas pela mídia que mais refletiram a crise real do Ceará, nas últimas horas, citamos a do site da Folha de S. Paulo, que noticiou o caos na segurança com o seguinte título: “Com greve de policiais, Fortaleza vira terra sem lei”. E nós completamos: e uma cidade que por pouco não foi dominada por uma tragédia maior ainda, se a greve tem se prolongado com a adesão crescente da polícia e de outras classes trabalhadoras que anunciavam solidariedade.
A única coisa que o governador Cid Gomes fez foi assumir a atitude de garoto birrento desse que bate o pé para não querer algo que o contrarie, achando que todos têm o dever de dobrar-se aos seus caprichos. A situação de dificuldades dos policiais já vinham se arrastando de longo tempo, exaurindo-lhes as forças para o exercício de suas árduas tarefas, em razão dos baixos salários e da falta de condições de trabalho. O governador não poderia ter deixado paras resolver uma crise que podia ter resolvido antes, se fosse dado ao diálogo inevitável em toda relação, principalmente na relação de poder.
Por puro impulso, preferiu decretar estado de emergência no Estado para um caso que ele poderia ter encerrado, como se viu obrigado a encerrar depois de transformá-lo numa crise gratuita que gerou desgaste para o governo, para a autoridade e para a população. E por preconceito à humildade, não participou pessoalmente das negociações e dos encontros em que se envolveram outras instituições democráticas, à exceção também da Assembléia Legislativa, que funcionou igualmente como apêndice da omissão.
Wanderley Pereira é jornalista da TV Jangadeiro
Fonte: Jangadeiro Online