sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Por que o filho do pobre não tem direito a um professor mais qualificado?


É sabido pela sociedade que a escola pública passa por uma série de problemas. Na maioria das vezes, o único a ser crucificado é o professor. Dizem que ele é relapso, descompromissado e despreparado. No entanto, como sabemos, a situação é mais complicada. Vivemos numa sociedade regrada pela política. E a educação tem passado por uma crescente política de desvalorização.
Foi-se o tempo em que o professor era reconhecido como uma profissão valorizada socialmente. Isso nas décadas de 50 e 60. Nessa época, querer ser jogador de futebol não era um desejo da maioria. E até aqueles, que porventura quisessem, sabiam da importância dos bancos escolares. Sabiam da importância também de respeitar o professor. Nesse tempo, é certo, que nem todos tinham o direito a uma vaga na escola. Havia seleção para a escola pública. A geração de hoje talvez nem saiba desses detalhes. Estudavam nas escolas do Estado, filhos de famílias ilustres, e o professor, além de ter o seu trabalho reconhecido socialmente, tinha condições de viver com um salário digno.
Com a democratização do ensino, possibilitando o filho das classes populares adentrarem a escola, mais professores foram contratados. E será que o poder público se preocupou com a qualificação desses mestres? Será que o governo se preocupou com a qualidade de ensino para os filhos do pobre? Não. A reboque, com baixos salários e poucas condições de trabalho, a tendência foi que o ciclo da desvalorização se perpetuasse até hoje.
Sabendo desse buraco negro em nossa educação, sabendo que a qualidade da educação também se relaciona com investimento na área e valorização do profissional, o governo federal lançou em 2008 a lei do piso nacional do professor. Isso permitiria, é lógico, uma revalorização da classe. Essa lei, além de melhorar o salário do professor, amplia o tempo de planejamento, momento essencial para a arte de ensinar.
Na contramão da valorização do magistério, uma pedra no meio do caminho: Cid Gomes. Vale lembrar que ele entrou com uma ação para derrubar a lei do piso. Vale lembrar ainda que ele perdeu, porém não se rendeu ao STF como tinha dito. A proposta do nosso governador, lançada em 28 de julho deste ano, destruiu a nossa carreira. Mascara-se a proposta com uma melhora na remuneração do professor recém-concursado. Mas não se considera que muitos desses professores já possuem especialização, mestrado e doutorado, cursos que dariam uma guinada significativa na carreira desse profissional de acordo com a tabela vigente. Caso a proposta do governador prevaleça, as perdas salariais serão desastrosas. Após o probatório, de três anos, a evolução na carreira será a passos de tartaruga e os títulos bem dizer não significarão nada. E o professor que já era da rede estadual de ensino, sonhando com dias melhores e uma ressignificação de seu trabalho, terá ganho próximo a zero.
Em síntese, a proposta do governo é uma afronta. Ela é uma afronta ao ensino do filho das classes populares. Com isso, os contínuos pedidos de exoneração dos profissionais mais bem qualificados será uma crescente. Neste último concurso, vale ressaltar que mais de 700 professores já desistiram de ficar no Estado.
Com o plano de Cid Gomes, o retorno financeiro aos investimentos com especialização, mestrado e doutorado, por ser irrisório, será um desestímulo ao professor. Dessa maneira, o ciclo da desvalorização permanece. Dessa maneira, o tão sonhado ensino de qualidade continua sendo uma quimera. Quem quer ser professor diante de um quadro desses? O senhor, governador, toparia esse desafio?

Filipe Fontenele Oliveira 
(professor recém-concursado do Estado)

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