sábado, 6 de outubro de 2012

Análise: Baixo salário e desprestígio da profissão afastam jovens


Os alunos que cursam licenciatura em física e em matemática na USP, quando comparados a outros graduandos dessa mesma universidade, estão entre os que acertam menos pontos no exame da Fuvest.
Eles são mais velhos, estão nas faixas de nível socioeconômico mais baixas, são trabalhadores. A situação é similar à dos outros cursos de licenciatura no país.
Para os alunos da USP, a licenciatura é uma das poucas alternativas possíveis para ingresso nessa universidade (e ter um diploma diferenciado) ou acessar a pós-graduação.
Ser professor não é por eles apontado como a principal razão para escolha do curso.
A maioria dos jovens que estão em vantagem socioeconômica e de fato podem fazer escolha profissional (porque acertam mais pontos no vestibular, porque podem se preparar para a prova, porque podem cursar integralmente a graduação) dificilmente opta por cursos de formação de professores da educação básica.
Isso indica que a carreira docente não está valorizada.
Um dado interessante do estudo é que, no caso da medicina (alunos que teoricamente poderiam optar por qualquer outro curso), cerca de 15% dos ingressantes já pensaram em ser professor.
Mas alegaram que baixo salário, prestígio e condições da escola foram fatores que influenciaram a não escolha.
Uma das conclusões de tudo isso é que é necessário pensar formas de tornar o magistério para a educação básica mais atraente para os jovens.
Algumas opções para isso são a adoção de bolsa de estudo para os cursos de formação de professores (que pode fazer o jovem ficar na área e não seguir outra profissão, tal como faziam antigamente os Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério) e oferecer um ensino forte (que desperte a vontade de ser professor).
Além disso, durante o curso e principalmente após a formação, eles precisam ver que vale a pena ser professor.
Mas, enquanto as condições de trabalho forem ruins, os salários forem os mais baixos das profissões que exigem ensino superior e a carreira cuja ascensão social significa sair da profissão (para ser diretor, por exemplo), outras áreas continuarão a ser mais interessantes aos jovens.

LUCIANA FRANÇA LEME é mestra em educação pela Faculdade de Educação da USP e autora do estudo que analisou a intenção dos licenciandos

Fonte: Folha de São Paulo

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