segunda-feira, 9 de abril de 2012

Uma classe média sem educação

 "É inacreditável como qualquer um nessa cidade constroi o que quer onde quer"
 
Somos um País de classe média. Uma conquista que deve orgulhar a todos. Mas o Brasil precisa, urgentemente, qualificar esse gigantesco extrato social. A começar pelos modos cotidianos, onde é gritante a falta de educação. Dos velhos e dos novos remediados. Tudo parece girar em torno do individualismo exacerbado. Um exemplo clássico: trânsito. Cada motorista quer ter mais direitos do que os demais. Pode anotar. Geralmente, são exatamente aqueles que não sabem o significado da palavra reciprocidade. Sempre querem passagem, mas nunca cedem a vez. Buzinam por qualquer bobagem, mas sempre resmungam quando fazem isso com eles. Acham que com o primeiro carro popular veio o direito de estacionar onde quiserem e bem entenderem. Já os que possuem carrões têm certeza disso. Daí, nem os riquinhos nem os ex-pobres ligam em parar em cima de calçadas, esquinas, fazendo filas duplas e em vagas exclusivas para outros fins etc. Fazem retorno onde dão na telha, não respeitam pedestres e por aí vai.
A BAGUNÇA E O DEVER DE CASA

Esse rápido punhado de vícios dos motoristas de Fortaleza citados acima, nesta semana em que o Município completa 286 anos, se expande por outros meios, contribuindo para o aumento de caos na mobilidade. Porta de escola. Quem não já foi vítima - talvez até mesmo algoz - da bagunça em portas de colégio na entrada e saída de alunos? Aqui são vários fatores. Entre eles, a ausência do poder público, que deixa estruturas enormes serem construídas sem o mínimo de estudo de impacto de trânsito no entorno. É inacreditável como qualquer um nessa cidade constroi o que quer onde quer. Grandes supermercados, colégios, condomínios o outros tipos de potenciais aglomeradores de veículos. No caso das escolas, os donos não se prestam a reservar uma área para embarque e desembarque, como já acontece em outras grandes cidades. É o óbvio. A maioria dos estabelecimentos, que recebem e despejam milhares de alunos em horários de pico - não contam sequer com recuo para minimizar o problema. Nesse ponto, certamente seriam reprovados no dever de casa.
DO CAOS NASCE O IMPROVISO

Comumente, o pessoal de apoio e da segurança dessas grandes escolas improvisam nos horários de maior estrangulamento. Com apito na boca, atuam como se guardas de trânsito fossem - achando-se no direito de interromper o fluxo de veículos a qualquer momento. Ultimamente, pasmem, até motoristas e auxiliares de transporte escolar desempenham a função, como este colunista pode constatar. O curioso disso tudo é que no disputado mercado da educação privada da Capital, cada mega colégio desses se diz mais preparado do que os concorrentes para educar nossas crianças e jovens. Em sala de aula, esbanjam conteúdos de quase todos os tipos. Menos o de civilidade e respeito mútuo. Os pais, em uma das dezenas de filas duplas lá fora, fazem de conta que acreditam.

FALTAM ORIENTAÇÃO, VIGILÂNCIA E PUNIÇÃO

Convívio civilizado e respeito ao direito do outro não nascem por geração espontânea. É preciso bons exemplos, tempo e presença ostensiva de entes públicos para orientar, vigiar e punir. E condições para que a norma seja cumprida. Por exemplo: Fortaleza não dispõe de lixeiras suficientes, algo básico do básico, para a Cidade não ficar tão aporcalhada, como se percebe no dia-a-dia. Faça o teste. Circule pela cidade à procura de um local para se desfazer de uns pedacinhos de papel picado. Se você encontrar a vasilha, possivelmente estará cheia ou quebrada. Ou os dois. Isso acaba sendo um desestímulo para o cidadão educado. E uma justificativa para os sem educação. É isso e a noção de que a transgressão não trará consequência alguma que levam as pessoas ao mau comportamento. Já está provado que boas ou más maneiras são derivadas, também, do ambiente ao redor.
Por que não soltamos um papel de bala no piso de um shopping? Porque sabemos que há lixeiras a poucos passos de onde estamos, que é um ambiente vigiado e limpo, constantemente, e que, fatalmente, muitos nos olhariam com reprovação. Provavelmente, até seríamos abordados. Com honrosas exceções, essas mesmas pessoas, em outros contextos, ficariam mais à vontade e não hesitariam em jogar um sabugo de milho ou um coco pela janela do carro ou transporte público.
REFLEXOS NA POLÍTICA

As questões coletivas estão sempre interligadas. Presas no mundinho à sua volta, como descrito nos tópicos acima, as pessoas dão de ombros para o que acontece para além dos seus interesses imediatos. Com isso, vão permitindo o surgimento de banalidades, com reflexos diretos na política. Os movimentos sociais, novos e remanescentes, só olham para o umbigo. O grosso do sindicalismo virou coro de apoio aos governos. A oposição morreu. Não assistimos mais a grandes mobilizações. Pela simples falta de vontade de se envolver em algo que não nos diga respeito a curtíssimo prazo. Por isso, a política está tão medíocre e sem grandes líderes. Grandes homens sempre nascem de grandes causas.

Fonte: O Povo

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