quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Cientistas rastreiam dietas de dinossauros para estudar sua evolução

 As restrições alimentares de dinossauros herbívoros limitavam o território que podiam ocupar — e teriam ajudado a aumentar a diversidade de espécies desses répteis.





Pegadas de dinossauros do Cretáceo em Colorado, EUA. Crédito: James St. John/Flickr 

Se você viajasse pelo que é hoje a América do Norte, cerca de 75 milhões de anos atrás, veria espécies de dinossauros muito diferentes onde quer que fosse. A variação dramática nos fósseis desse período, encontrados  em toda a porção ocidental do continente, tem deixado os paleontólogos intrigados há tempos. Alguns propuseram que montanhas ou rios isolaram populações de dinossauros em evolução, levando a uma maior diversidade. Mas, um novo estudo sugere uma explicação diferente. De acordo com artigo na Paleontology, parte da resposta repousa no que os dinossauros herbívoros mastigavam.

Os paleontólogos podem investigar as dietas dos dinossauros observando isótopos — versões do mesmo elemento químico com diferentes números de nêutrons — encontrados em ossos fossilizados. Na medida em que os dinossauros herbívoros digeriam samambaias e coníferas, por exemplo, isótopos de oxigênio, carbono e estrôncio se acumulavam em diferentes proporções de acordo com a espécie da planta e o local onde cresceu. Assim, com uma análise isotópica dos ossos, os especialistas identificam não apenas o que esses animais comiam, mas onde se aventuravam em busca de sustância.

No novo estudo, Thomas Cullen, paleontólogo da Universidade Carleton, no Canadá, e seus colegas analisaram ceratopsídeos com chifres, anquilossauros blindados e hadrossauros com bico de pato originados da Formação Oldman ao sul da província de Alberta. As razões isotópicas mostram que os dinossauros blindados e com chifres, que andavam de quatro patas e com suas cabeças perto do solo, comiam plantas de baixo crescimento em uma área geográfica limitada.

Mas os dinossauros com bico de pato poderiam alcançar folhagens mais altas e se alimentar de uma gama mais ampla de plantas; esses animais também chegavam a percorrer 100 quilômetros para suas refeições. “Inicialmente fiquei surpreso com as diferenças [de hábitos] entre os hadrossauros e os anquilossauros e ceratopsídeos”, diz Cullen.

A restrição alimentar dos dinossauros com chifres e armaduras a áreas relativamente pequenas pode ter ajudado a conduzir a evolução, gerando muitas novas espécies em cada habitat — enquanto espécies com bicos de pato, com territórios maiores, mostraram muito menos variação. “Esse estudo é um exemplo de como o uso de técnicas geoquímicas permite que os paleontólogos interpretem a ecologia de ecossistemas antigos”, diz Celina Suarez, geóloga da Universidade do Arkansas não envolvida na pesquisa. “Eu apostaria que a dieta dos hadrossauros provavelmente se relaciona com a ampla distribuição de suas espécies”, diz Andrew Farke, do Museu Raymond M. Alf de Paleontologia em Claremont, Califórnia, não envolvido no estudo.

Riley Black

Publicado originalmente na edição de agosto de 2022 da Scientific American Brasil; aqui em 03/11/2022.

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