sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Descoberto açúcar em torno de estrela jovem

Descoberto açúcar em torno de estrela jovem

Astrônomos descobriram moléculas de glicoaldeído - uma forma simples de açúcar - no gás que circunda uma estrela binária jovem, com massa semelhante à do Sol, chamada IRAS 16293-2422. Esta é a primeira vez que açúcar é descoberto no espaço em torno de uma estrela desse tipo.[Imagem: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/L. Calçada (ESO) & NASA/JPL-Caltech/WISE Team]
 Açúcar espacial Usando o telescópio móvel ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) uma equipe de astrônomos descobriu moléculas de açúcar no gás que rodeia uma estrela jovem semelhante ao Sol.
Esta é a primeira vez que açúcar é descoberto no espaço em torno de uma estrela tipo solar.
Segundo a equipe, a descoberta demonstraria que os chamados "blocos constituintes da vida" se encontram no local certo, no momento certo, de modo a serem incluídos em planetas que estejam se formar em torno da estrela.
"No disco de gás e poeira que circunda esta estrela recém-formada encontramos glicoaldeído, uma forma de açúcar simples não muito diferente do açúcar que pomos no café," explica Jes Jorgensen (Instituto Niels Bohr, Dinamarca), o autor principal do artigo científico que descreve estes resultados. "Esta molécula é um dos ingredientes na formação do RNA, que - tal como o DNA, ao qual está ligado - é um dos blocos constituintes da vida."
Glicoaldeídos
Os astrônomos descobriram moléculas de glicoaldeído - uma forma simples de açúcar - no gás que circunda a estrela binária IRAS 16293-2422.
Açúcar é um nome genérico para uma série de pequenos hidratos de carbono, moléculas que contêm carbono, hidrogênio e oxigênio, tipicamente com uma razão atômica hidrogênio:oxigênio de 2:1, como a água.
O glicoaldeído tem a fórmula química C2H4O2. O açúcar utilizado normalmente na comida e bebida é a sacarose, uma molécula maior que o glicoaldeído e outro exemplo desse tipo de compostos.
Glicoaldeídos já tinham sido observados anteriormente no espaço interestelar.
Mas esta é a primeira vez que o composto é descoberto tão perto de uma estrela do tipo solar, a distâncias comparáveis à distância de Urano ao Sol, no Sistema Solar.
Esta descoberta mostra que alguns dos componentes químicos necessários à vida existiam neste sistema na altura da formação planetária.
Descoberto açúcar em torno de estrela jovem
Impressão artística de moléculas de glicoaldeído, mostrando a estrutura molecular deste composto (C2H4O2). Os átomos de carbono estão representados em cinza, os de oxigênio em vermelho e os de hidrogênio em branco. [Imagem: ALMA (ESO/NAOJ/NRAO)/L. Calçada (ESO)]
Vida nas estrelas
"O que é verdadeiramente excitante acerca dos nossos resultados é que as observações do ALMA revelaram que as moléculas de açúcar estão caindo em direção a uma das estrelas do sistema," diz a membro da equipe Cécile Favre (Universidade de Aarhus, Dinamarca). "As moléculas de açúcar não só se encontram no local certo para encontrarem o seu caminho até um planeta, estão também deslocando-se na direção correta."
As nuvens de gás e poeira que colapsam para formar novas estrelas são extremamente frias, e muitos gases solidificam sob a forma de gelo sobre as partículas de poeira, onde vão se juntando para formar moléculas mais complexas - elas encontram-se geralmente a cerca de 10 graus acima do zero absoluto, cerca de -263 graus Celsius.
Mas, assim que uma estrela se forma no meio de uma nuvem de gás e poeira em rotação, esta aquece as regiões internas da nuvem para algo parecido com a temperatura ambiente da Terra, evaporando as moléculas quimicamente complexas e formando gases que emitem uma radiação característica em ondas de rádio, ondas estas que podem ser mapeadas com a ajuda de potentes radiotelescópios, como o ALMA.
Complexidade da vida
A IRAS 16293-2422 situa-se a cerca de 400 anos-luz de distância, relativamente próximo da Terra, o que a torna num excelente alvo para os astrônomos que estudam as moléculas e a química em torno de estrelas jovens.
Usando o poder de uma nova geração de telescópios, tais como o ALMA, os astrônomos têm agora a oportunidade de estudar os detalhes das nuvens de gás e poeira que estão formando sistemas planetários.
A alta sensibilidade do ALMA - mesmo nos comprimentos de onda mais curtos nos quais opera e por isso tecnicamente mais difíceis - foi indispensável nestas observações, que foram executadas com uma rede parcial de antenas durante a fase de verificação científica do observatório - a construção do ALMA só estará completa em 2013, quando as 66 antenas de alta precisão estiverem completamente operacionais.
"A grande questão é: qual a complexidade que estas moléculas podem atingir antes de serem incorporadas em novos planetas? Esta questão pode dizer-nos algo sobre como a vida aparece noutros locais e as observações do ALMA serão vitais para desvendar este mistério," conclui Jes Jorgensen.

Fonte: Inovação Tecnológica

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mudar currículo não melhora o ensino médio, diz professor da USP


Ensino médio necessita de ações abrangentes para evoluir
Até o final de outubro, um grupo de trabalho formado pelo Ministério da Educação (MEC) deverá apresentar propostas para o ensino médio. O pacote, que inclui reforma curricular e adoção da jornada ampliada, é uma resposta às médias sofríveis desse segmento na edição 2011 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Desde que a avaliação começou a ser realizada, em 2005, as médias das séries iniciais do ensino fundamental evoluíram praticamente três vezes mais rápido do que as do antigo colegial. Conforme declarou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, as principais razões são o excesso de disciplinas e a oferta das aulas no período noturno, na maioria dos casos, com estudantes defasados em relação à idade e serie.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC e responsável pelo Ideb, o ensino médio praticamente não avançou como deveria. Em comparação com 2009, as médias de 2011 caíram em nove estados (Acre, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Paraíba, Paraná, Rio Grande do Sul e Rondônia) e o Distrito Federal (DF).
Ficaram abaixo da média estabelecida para o ano em cinco estados (Alagoas, Espírito Santo, Pará, Rio Grande do Sul e Sergipe), além do DF. Houve melhora em 11 (Amapá, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins). Na avaliação em geral, a média nacional do ensino médio ficou em 3.7, enquanto a dos anos iniciais foi de 5.
Para Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), especialista em temas como avaliação e gestão educacional, as mudanças em estudo são inócuas. “Se o currículo for mudado, quem vai dar essas aulas?”, questiona.
- Antes de quaisquer mudanças que venham a ser feitas os professores precisam ser preparados. E não é o que está acontecendo – diz o especialista, alertando para o fato de o ensino médio ser responsabilidade dos estados, e não da União. Na comparação que ele faz, modificar o currículo, com redução das disciplinas, é como trocar a colher com que se administra o remédio sendo que o ideal é passar a dar um medicamento adequado, prescrito conforme a doença.
Alavarse, aliás, discorda do ministro Mercadante também quanto ao suposto excesso de disciplinas. Segundo ele, português e matemática compõem a maioria da grade curricular, sobrando pouco espaço para outras matérias pedagógicas obrigatórias. “É preciso repensar o que está sendo ensinado e como isso está sendo feito, muitas vezes em escolas que nem banheiro têm.”
O especialista critica também a proposta de ensino médio ampliado, de difícil implementação. “Mais de 45% desses alunos estudam à noite ou porque precisam começar a trabalhar ou porque já são trabalhadores que não puderam estudar quando adolescentes. O ideal seria terminar o ensino médio aos 17 anos”, diz. “E se a tendência for de acabar com o ensino noturno, como esses alunos vão fazer para poder estudar?”
Mudanças no Ideb
Por causa do lento avanço do ensino médio no Ideb, o MEC estuda também substituir as provas de português e matemática pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A medida, segundo o ministério, é aumentar a amostragem dos alunos desse nível de ensino.  Por meio de sua assessoria de imprensa, o MEC afirmou não haver ainda nenhuma decisão tomada a respeito. E a Prova Brasil, um dos componentes do Ideb – o outro são as taxas de aprovação, continua a ser aplicada no 5º e 9º anos do Ensino Fundamental, para avaliar o desempenho dos estudantes em leitura e cálculos básicos.
Seja como for, Ocimar Munhoz Alavarse critica a possibilidade de inclusão do Enem. “Os objetivos são diferentes. A Prova Brasil deveria ser mantida para preservação da série histórica. Essa mudança me parece o caso do gordo que quer trocar a balança na esperança de estar mais magro em outra.”

Fonte: Correio Do Brasil

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Dívida Brasileira

 ENTREVISTA
“A reserva de 47% dos recursos federais em 2012 para pagamento do serviço da dívida decorre do modelo econômico vigente no país... (19/03/2012)


que tem raízes históricas no processo de colonização e influenciou a conformação injusta da sociedade brasileira.”
Auditora fiscal da Receita Federal desde 1982, Maria Lucia Fattorelli assumiu a coordenação da organização brasileira Auditoria Cidadã da Dívida em 2000. Em 2007 e 2008 participou, a convite do governo do Equador, da Comissão de Auditoria integral da Dívida Pública (CAiC) do país. Também participou ativamente dos trabalhos da Comissão Parlamentar de inquérito sobre a dívida, no Congresso brasileiro no período de setembro de 2009 a maio de 2010. O conhecimento teórico e prático faz de Maria Lucia uma referência no debate sobre a dívida, o verdadeiro vilão das contas públicas no nosso país.

P: Em 2012 a parcela do Orçamento Geral da União destinada aos juros e amortizações da dívida já supera os 47%, drenando preciosos recursos que deveriam ser aplicados em saúde, educação, infraestrutura e segurança. Como chegamos a esta situação?
R:
A reserva de 47% dos recursos federais em 2012 para pagamento do serviço da dívida decorre do modelo econômico vigente no país. Esse modelo é equivocado sob vários aspectos, especialmente no que se refere à opção pelo endividamento ao invés da adoção de uma tributação justa.

Tal modelo tem raízes históricas no processo de colonização e influenciou a conformação injusta da sociedade brasileira. Em termos de política fiscal, determinou a adoção de modelo tributário regressivo, que tem propiciado a contínua concentração da riqueza e da renda, além de garantir à dívida pública uma série de privilégios que denominamos “Sistema da Dívida”.

Em tese, o endividamento público deveria funcionar como fonte de recursos para o Estado, aportando recursos não suficientemente arrecadados por meio dos tributos. Na prática, tem funcionado como mecanismo de crescente desvio de recursos públicos para o setor financeiro privado, sem qualquer contrapartida em bens ou serviços à Nação.

É devido a esse “Sistema” que a dívida tem absorvido quase a metade dos recursos federais.
P: Você poderia explicar essa estrutura de privilégios do “Sistema da Dívida”?
R:
O privilégio do “Sistema da Dívida” está presente nos campos político, econômico, financeiro e legal, e opera de maneira semelhante em diversos países. No Brasil, podemos identificar diversos atos:

Todo gasto governamental exige a indicação das respectivas fontes de recursos, exceto a dívida. Esse privilégio advém de dispositivo constitucional sobre o qual recaem graves denúncias de fraude1: trata-se da exceção prevista no Art. 166, § 3º, II, “b”, segundo a qual pagamentos da dívida não se submetem à limitação aplicada aos demais gastos. É por isso que os integrantes do COPOM decidem subir os juros e não pedem autorização para ninguém. Se os recursos orçamentários são insuficientes, o governo emite novos títulos.

O privilégio da dívida prossegue na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): desde o Plano Real, enquanto gastos governamentais ficaram congelados, a LDO garantiu atualização da dívida de forma automática, mensalmente, e por índices calculados por instituição privada2 que tiveram variação muito superior ao índice oficial de inflação, o IPCA3. Sobre essa robusta atualização ainda incidem elevados juros reais. Por isso a dívida brasileira é a mais cara do mundo, absorvendo crescentes recursos, conforme série histórica (gráfico 1).
Gráfico 1
Orçamento Geral da União – Gastos Selecionados (R$ milhões)


Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional - SIAFI. Inclui a rolagem, ou “refinanciamento” da Dívida.
P: E a dívida ainda tem outros privilégios legais relevantes?
R:
Sim, muitos mais. Outro privilégio impressionante consta da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita gastos e investimentos sociais, mas não estabelece limite algum para o custo da política monetária. Dessa forma, ficam garantidos os elevados juros aos rentistas, ainda que essa política gere prejuízos ao patrimônio nacional: em 2009, o prejuízo do Banco Central chegou a R$ 147 bilhões; em 2010 alcançou R$ 50 bilhões. Mas a Lei de “Responsabilidade” Fiscal determina que o Tesouro Nacional arque com todo esse prejuízo, sem limites. Se os recursos orçamentários não são suficientes, emite-se nova dívida para cobrir esse prejuízo e isso é propagandeado como “responsabilidade”.

Novos privilégios decorrem do controle de inflação adotado no país, baseado em dois pilares principais: utilização dos juros como instrumento de controle de preços, e controle do volume de moeda em circulação. Ocorre que ao elevar os juros nem sempre se controla a inflação, pois estudos demonstram que 70% da inflação no país tem sido provocada pelo aumento excessivo dos preços de serviços que foram privatizados (energia elétrica, telefonia, transportes, combustíveis). Por sua vez, o controle do volume de moeda em circulação não veio acompanhado do necessário controle do ingresso de capitais especulativos. Tal omissão tem permitido ao setor financeiro bancário trazer montanhas de dólares ao país, na certeza de que o Banco Central irá “enxugar” esse excesso de moeda, procedendo a troca desses dólares por títulos da dívida pública. Essa operação garante lucros imensos aos bancos privados e prejuízos ao Banco Central. É evidente que todos querem controle de inflação, mas tal controle não pode justificar uma política monetária insana, que provoca prejuízos imensos ao país.

Adicionalmente, por lei, desde os anos 90, são destinados exclusivamente ao pagamento da dívida: recursos advindos da venda do patrimônio público por meio das privatizações; o lucro das empresas estatais, na parte ainda detida pelo Estado; recursos recebidos pela União, referentes a pagamentos efetuados pelos Estados e Municípios.

Outros atos recentes (Medidas Provisórias 435 e 450) permitiram que recursos financeiros não gastos durante o ano fossem destinados à dívida. Em 2008, tal ato permitiu o questionável desvio de quase R$ 40 bilhões para a dívida, sendo os mais relevantes: R$ 5 bilhões do FUNDAF e R$ 20 bilhões dos royalties do petróleo.

Além desse aparato legal que privilegia a dívida, as investigações técnicas que realizamos durante a CPI provaram uma flagrante irregularidade: emissão de novos títulos para o pagamento de grande parte dos juros. Tal procedimento afronta a Constituição Federal, que proíbe expressamente a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes.

Essa ilegalidade, somada ao aparato que garante atualização automática acrescida de juros exorbitantes e à completa ausência de limites, tem provocado o crescimento acelerado da dívida pública brasileira, que já supera os R$ 3 trilhões ou 78% do PiB, e consome quase a metade dos recursos da união. É por isso que vivemos um grande paradoxo: somos a 6a potência mundial, mas um dos países mais injustos do mundo, ocupando a 84a posição no Índice de Desenvolvimento Humano (iDH) medido pela ONU.

Os dados falam por si. O gráfico a seguir demonstra para onde estão indo os recursos e denuncia a prioridade absoluta da dívida, em detrimento de todas as demais áreas (gráfico 2).
Gráfico 2
Orçamento Geral da União Executado até 31/12/2011 por Função
Total: R$ 1,571 Trilhão

Elaboração: Auditoria Cidadã da Dívida. Fontes:
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=20703 - Gastos por Função
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=20704 - Gastos com a Dívida
http://www8a.senado.gov.br/dwweb/abreDoc.html?docId=20715 - Transferências a Estados e Municípios (Programa “Operações Especiais - Transferências Constitucionais e as Decorrentes de Legislação Específica”) Nota 1: As despesas com a dívida e as transferências a estados e municípios se incluem dentro da função “Encargos Especiais”. Nota 2: O gráfico não considera os restos a pagar de 2011, executados em 2012.
P: A sociedade parece não estar sensível a este fato, mas se mobiliza quando o tema é a corrupção, cujo impacto é menor que o da dívida. A bandeira contra a corrupção seria uma cortina de fumaça para esconder o verdadeiro vilão das contas públicas?
R:
A sociedade não se mobiliza porque não tem acesso à informação, mas agirá de forma diferente quando tomar consciência da lesão provocada por esse “Sistema da Dívida”.

Quanto à corrupção, todos são contra, por isso é fácil mobilizar. Mas é perceptível que muitos estão usando essa bandeira para dar a entender que o problema do país decorre exclusivamente da corrupção política.

A corrupção é ingrediente intrínseco ao atual modelo econômico neoliberal que transfere recursos coletivos para uma minoria de privilegiados. Tal modelo concentrador de riqueza à custa da produção de miséria é, em si, corrupto. Mas essa macrocorrupção não vira notícia.

No Brasil esse modelo se manifesta especialmente na política fiscal, com uma tributação às avessas e privilégios ao “Sistema da Dívida” mediante a utilização de mecanismos ilegítimos e até inconstitucionais.

Esse modelo financia a corrupção, pois necessita cúmplices que irão garantir aprovação e implementação de medidas que favorecerão o setor dominante (financeiro e grandes corporações) em detrimento dos interesses coletivos.

Quem financia as campanhas eleitorais e impede a aprovação de reforma política que democratizaria a candidatura de autênticos representantes sociais? Quem impede o avanço da nova arquitetura que colocaria o sistema financeifinanceiro a serviço do Estado? Quem paga as polpudas propinas e corrompe funcionários estratégicos para operarem interesses escusos? Tudo isso está ligado a uma estrutura de poder extremamente corrupta.

Para os interessados em continuar encobrindo toda essa macrocorrupção do modelo econômico e do “sistema da Dívida” deve até ser conveniente criar escândalos a partir de casos isolados de corrupção, pois esses ocupam páginas dos jornais por dias seguidos e fazem muitos acreditarem que é por isso que o país não dá certo. Chegam até a lançar campanhas contra corrupção, que de fato é infame e tem que ser combatida, mas não pode distrair a atenção do verdadeiro nó que amarra o nosso país e toma quase a metade dos recursos.
P: Como você avalia o papel dos meios de comunicação e dos jornalistas especializados em Economia neste processo?
R:
A resposta não é simples e seria injusto generalizar, mas a desinformação em relação ao endividamento brasileiro é impressionante. Isso não é culpa somente dos jornalistas especializados. Não há a devida transparência.

Quanto aos meios de comunicação, dentre os maiores estão aqueles financiados pelo setor financeiro e grandes corporações que fazem parte da estrutura de poder, que dificilmente publicarão matérias que desmascarem o Sistema e conscientizem a população. Por isso omitem o problema da dívida pública e, quando chegam a tratar do tema, apresentam dados e fatos distorcidos.

Meios de comunicação e jornalistas são fundamentais para modificar a injusta situação brasileira. O que ocorreria se diariamente nos deparássemos com matérias denunciando ilegalidades e ilegitimidades históricas do endividamento; questionamentos sobre a contrapartida dessa dívida que já supera os R$ 3 trilhões e consome quase a metade dos recursos federais; sobre sua origem e contrapartida? Quem se beneficia desse processo e quem paga a conta? Esse sim, é o grande escândalo que não deveria sair da pauta enquanto não totalmente elucidado.
P: Você mencionou a falta de transparência. Por que os números divulgados pela Auditoria Cidadã da Dívida são diferentes dos normalmente divulgados pelo governo e a imprensa? O que se quer acobertar?
R:
Inicialmente é preciso registrar que a Auditoria Cidadã da Dívida4 trabalha unicamente com dados oficiais.

Nossos dados parecem diferentes dos apresentados pelo governo e setores da mídia, que costumam apresentar quantias bem menores tanto para fluxo quanto para o estoque da dívida, pois usam diversos artifícios.

O valor de R$ 708 bilhões (45,05%) destinado ao pagamento de juros e amortizações em 2011 foi extraído do Orçamento da União Executado, conforme fontes indicadas no gráfico anterior.

Números inferiores a esse decorrem da:
• Omissão de parte dos juros nominais efetivamente pagos pelo governo federal, representada pela atualização monetária medida pelo IGP-M. Divulgam apenas os chamados juros “reais”;
• Omissão do efetivo montante do serviço da dívida. Consideram unicamente a parcela paga com recursos orçamentários e excluem a parcela paga com os recursos advindos do leilão de novos títulos; • Divulgação errônea de que emissão de nova dívida para pagar dívida anterior seria mera troca ou “rolagem”. Na realidade, cada emissão de títulos é autônoma, passa pelo processo de leilão através dos privilegiados dealers5, com custos não transparentes, e fica sujeita à reação do mercado. Portanto, não existe a tal mera troca. Adicionalmente, as investigações técnicas durante a CPI da Dívida comprovaram que parte dos juros está sendo contabilizada como rolagem, portanto, deve ser computado esse montante.

Em relação ao estoque da dívida a divergência decorre de omissão na divulgação do estoque bruto da dívida, utilizando-se do artifício de “dívida líquida”, definição esdrúxula utilizada apenas no Brasil, sem sentido lógico: os juros nominais efetivamente pagos são calculados e pagos sobre a dívida bruta; as amortizações idem. O termo “dívida líquida” tem trazido grande confusão e ilusão a muitos setores.

O último dado consolidado do estoque da dívida divulgado pelo governo foi o de novembro de 2011, quando o estoque da Dívida Interna alcançou R$ 2.501.674.500.928,726 e o da Dívida Externa alcançou US$ 406.801.663.629,477 (equivalente a R$ 700 bilhões, a conversão de R$ 1,72).

Portanto, em novembro de 2011 o estoque da dívida brasileira chegou a 3 trilhões e 201 bilhões de Reais, correspondente a 78% do PIB. As divergências na apresentação dos números reforçam a necessidade de auditoria.
P: Que medidas o governo federal pode tomar nos curto, médio e longo prazos para reduzir esta sangria de recursos para o pagamento de juros e amortizações da dívida?
R:
Começar pela auditoria da dívida, pois não podemos continuar pagando dívidas ilegais e ilegítimas à custa de tanto sacrifício social e comprometimento das gerações futuras. A auditoria irá segregar essas ilegalidades.

No curto prazo, o governo deveria interromper, de imediato:

• A emissão de títulos para pagar juros. Tal ato viola o disposto no artigo 167 da Constituição;
• A contabilização irregular da parcela dos juros nominais (correspondente à atualização monetária) como se fosse amortização ou rolagem. Tal fato levaria a drástica redução dos juros, sob pena de decretação de moratória;
• A insana prática de enxugar excesso de dólares especulativos que entram no país, trocando-os por títulos da dívida. Tal prática tem provocado danos irreparáveis ao patrimônio nacional;
• A utilização do endividamento público para repasse direto de recursos a empresas privadas, subsidiados pelo BNDES;
• As medidas que estão acelerando a transferência da crise internacional para o Brasil, especialmente o relaxamento das regras para derivativos e produtos financeiros sem lastro;
• A cobrança da dívida dos entes federados renegociada na década de 90, pois a CPI comprovou ilegalidades e irregularidades que estão sufocando as finanças dos Estados e prejudicando a população;
• A nociva interferência do FMI e do Banco Mundial nas políticas federais, estaduais e municipais, pois esses organismos defendem unicamente interesses do setor financeiro privado. Deveria aprovar o projeto de nova arquitetura financeira regional, criando o Banco do Sul e reforçando a integração latino-americana. Abolir a isenção tributária para estrangeiros que lucram com títulos da dívida “interna”, passando a tributar ganhos financeiros de forma progressiva. No médio prazo (de 1 ano), baseado na auditoria da dívida, rever cada situação e aplicar as necessárias correções. Redirecionar os recursos para investimentos efetivos em educação, tecnologia, saúde, moradia digna, transportes de qualidade, energia limpa, geração de empregos e resgate efetivo da qualidade de vida. Rever simultaneamente a estrutura tributária do país.

A longo prazo (superior a um ano), prosseguir com a auditoria integral regular, de forma transparente e com a participação cidadã, para que o endividamento público deixe de ser elemento de tirania financeira e retome seu papel de financiamento do Estado.
P: Como sugere a revisão da estrutura tributária brasileira?
R:
Essa revisão será fundamental para garantir justiça social, pois a carga tributária é alta para os pobres e baixa para os ricos, ou seja, extremamente regressiva. Esse aleijão do modelo tributário decorre do fato de a maior parte dos tributos arrecadados no país serem indiretos, embutidos nos preços dos produtos e serviços. Quando um pobre ou um milionário compram um pacote de macarrão, os dois pagam a mesma quantidade de tributo, sendo que a capacidade contributiva de ambos é totalmente distinta. Por isso os tributos indiretos são os mais injustos.

Os tributos diretos também estão cada vez mais injustos no Brasil. No caso do imposto de renda das pessoas físicas, sob a justificativa da simplificação, diversas deduções foram abolidas e o trabalhador está cada vez mais onerado. Deveriam ser retomadas deduções referentes a financiamento da casa própria, aluguel residencial, livros e materiais técnicos, e permitidas deduções especiais para portadores de deficiência; medicamentos, próteses, lentes, além de outros tributos pagos pelo trabalhador: IPTU, IPVA, IOF, ICMS. É urgente a atualização da tabela, cuja defasagem supera 50%, caracterizando verdadeiro confisco contra os trabalhadores.

Os empresários são beneficiados, pois os lucros recebidos de suas empresas são isentos.

Enquanto deduções vitais são negadas às pessoas físicas, desde 1996 as pessoas jurídicas podem deduzir juros calculados sobre o capital próprio, despesa não efetivamente paga, fictícia, que beneficia empresas altamente capitalizadas, como os bancos. Trata-se de benesse tributária escandalosa; uma aberração.

Além disso, o imposto sobre grandes fortunas nunca chegou a ser regulamentado. Os ganhos dos rentistas estrangeiros com títulos da dívida são totalmente isentos. O imposto sobre a propriedade rural é baixíssimo, propiciando a concentração da propriedade em grandes latifúndios e prejudicando a necessária reforma agrária. O imposto sobre heranças é baixíssimo ou até inexistente em alguns estados.

Para avançar, a reforma tributária dever ser feita juntamente com a fiscal, revendo ingressos e saídas de recursos de maneira integrada e rediscutindo o modelo econômico.
P: Por que é tão difícil se fazer uma reforma tributária no Brasil?
R:
Há conflito de interesses e setores de poder desejam manter seus privilégios.

Essa dificuldade não existe somente no Brasil. Recentemente assistimos ao presidente dos Estados Unidos defendendo o aumento da tributação dos ricos que o Congresso norte-americano não aprovou. Por quê? Basta ver quem financiou as respectivas campanhas eleitorais daqueles parlamentares.

No Brasil a situação é ainda mais grave, devido à falta de informações por parte da população. Poucos sabem que quando compram um medicamento pagam 35% ou mais de tributos embutidos no preço; quando acendem a luz pagam mais de 20%; quando usam o telefone pagam cerca de 40%; quando adquirem alimentos pagam 15% ou mais em tributos; e não recebem a devida contrapartida em bens e serviços públicos de qualidade.

O conhecimento da realidade levará à mobilização necessária para conquistar a reforma justa.
P: Os estudantes de economia e os economistas brasileiros, principalmente os mais jovens, estão sensibilizados para a importante questão do endividamento público? Ou priorizam a retórica da redução de gastos públicos e da carga tributária? Qual a sua experiência com este grupo em especial?
R:
A atual crise financeira iniciada nos Estados Unidos e Europa em 2008 recolocou o tema do endividamento na pauta dos debates em todo o mundo. Essa crise provocada pela desregulamentação financeira e desenfreada emissão de derivativos sem lastro pelos bancos foi transformada em crise “da dívida” e escancarou a usurpação da dívida pública.

Tenho participado de debates com estudantes que ficam confusos quando questiono: onde o atual modelo econômico neoliberal deu certo? Como anda a Economia nos países mais ricos? Como esse modelo afeta a sociedade e o próprio planeta?

A conclusão óbvia tem sido a de que o modelo neoliberal não serve e precisa ser substituído. Os recursos existentes são mais que suficientes para garantir vida digna para todos, e a Economia deveria ser a engrenagem que dirige os recursos de forma equilibrada. Várias iniciativas já existentes fazem parte desse anseio e contam com ampla participação de estudantes: auditoria da dívida, economia solidária, nova arquitetura financeira, entre outras.

Tenho imensa esperança e confiança na juventude brasileira, composta de pessoas extremamente criativas que precisam de mais incentivo e respeito por seu potencial.

No mundo todo, jovens têm exercido papel importante nas lutas por mudanças. No Chile lideraram movimento nacional; nos países árabes são protagonistas; na Europa e Estados Unidos lideram os movimentos “Ocupem...”. Até em Harvard8 estudantes protestam contra o modelo econômico que cria desigualdades. Enfim, muitos têm se esforçado para tornar realidade o lema de que “Outro Mundo é Possível”.
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1 BENAYON, Adriano, “Anatomia de uma Fraude à Constituição”.

2 Fundação Getúlio Vargas

3 A dívida federal tem sido atualizada automaticamente, mensalmente, pelo IGP-M. A dívida dos estados (com a União) tem sido atualizada automaticamente, mensalmente pelo IGP-DI. Ambos são calculados pela FGV e suas variações no período foram muito superiores ao IPCA.

4 www.divida-auditoriacidada.org.br

5 Dealers são as instituições financeiras selecionadas para adquirir os títulos da dívida no Mercado primário e negociar também no Mercado secundário. http://www.tesouro.fazenda.gov.br/hp/downloads/dealers.htm

6 Fonte: http://www.bcb.gov.br/ftp/NotaEcon/NI201112pfp.zip - Quadro 35.

7 Fonte: http://www.bcb.gov.br/ftp/NotaEcon/NI201112sep.zip - Quadros 51 e 51-A.

8 http://www.dailymail.co.uk/news/article-2058319/Did-Harvard-economics-class-cause-financial-crisis-Students-walk-lecture.html e http://thewilliamsrecord.com/2012/01/18/larry-summers-lectures-on-economy-encounters-opposition/

Fonte: CORECON-RJ

Raio ascendente é registrado no Brasil durante o inverno

 Raio que sobe
 Raio ascendente é registrado no Brasil durante o inverno
Pesquisadores do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registraram um raio ascendente em São Paulo durante uma tempestade de inverno.
No início do ano, os pesquisadores do Elat registraram pela primeira vez imagens desse tipo de raio no Brasil.
Em vez de descer das nuvens e atingir o solo - como ocorre com a maioria das descargas atmosféricas - um raio ascendente parte de algo na superfície e se propaga em direção à nuvem.
Atividade elétrica nas nuvens
Agora, durante uma tempestade de inverno, mais um raio ascendente foi detectado partindo de uma das torres de telecomunicações instaladas no Pico do Jaraguá, em São Paulo.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a quase total ausência de raios durante a tempestade que gerou o raio ascendente.
"Foi uma sorte registrar esse raio ascendente, pois não havia nenhum indício de atividade elétrica na nuvem", disse Marcelo Saba, pesquisador do Elat e responsável pelas observações.
De acordo com Saba, a constatação revelou, de forma inédita, que, mesmo na ausência de raios descendentes - que descem das nuvens e atingem o solo -, os raios ascendentes podem acontecer.

Fonte: Inovação Tecnológica

Educação frágil e desigualdade social são "calcanhar de Aquiles" do Brasil

Fragilidade exposta
O déficit de profissionais brasileiros com conhecimento na área de ciência e tecnologia é o "calcanhar de Aquiles" do desenvolvimento do país.
Esta foi a avaliação expressa por especialistas durante a abertura do 1º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, uma entidade de pesquisas, sem fins lucrativos, mantido pelo BNDES, Petrobras, Caixa Econômica Federal, Eletrobras, e Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
O evento tem como tema "A Crise e os Desafios para um Novo Ciclo do Desenvolvimento".
Segundo Tânia Bacelar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a falta de profissionais qualificados no mercado desafia a transição do Brasil para a sociedade do conhecimento.
Segundo ela, essa subida de patamar implica mudanças no atual modelo industrial e de educação. "Essa mudança desafia, sobretudo, a fragilidade e a insuficiência do sistema de educação, ciência e tecnologia".
Desigualdades
O destaque do evento foi Deepak Nayyar, economista e professor da Universidade Jawaharlal Nehru, de Nova Déli, na Índia.
Nayyar destacou que a grande diferença entre o desenvolvimento das nações asiáticas e as da América Latina é o investimento em tecnologia.
Para o indiano, porém, além de investir nessa área, o Brasil precisa enfrentar a desigualdades de renda e a pobreza.
Diante da crise econômica, a população (o mercado interno), na avaliação de Nayyar, é o grande ativo dos países em desenvolvimento. "Se estes alcançarem um o estado de bem-estar social, o céu é o limite. Do contrário, o mundo será mais do mesmo".
Marcos Formiga, diretor-presidente do Centro Celso Furtado, afirmou que a tecnologia é a aposta da humanidade para alavancar o desenvolvimento, calcado em avanços sociais, como a qualidade educacional. "Conhecimento é a chave. Não há dúvida, é a tecnologia que molda o futuro".

Fonte: Inovação Tecnológica

Reforma do ensino médio não pode sucatear ciência

SBF envia carta ao ministro da Educação com sugestões de como modernizar e aperfeiçoar o ensino das disciplinas científicas nas escolas

A reforma do currículo do ensino médio proposta pelo Ministério da Educação é importante e desejável, mas há de se tomar cuidado para não agravar, em vez de solucionar, alguns dos sérios problemas enfrentados hoje no setor de educação.
Em carta enviada ao ministro Aloizio Mercadante, a diretoria da Sociedade Brasileira de Física manifesta sua preocupação de que as disciplinas de física, biologia e química sejam reunidas sob um único curso de “ciências da natureza”. A iniciativa deve diluir ainda mais a apresentação dos conteúdos científicos, que hoje carecem de aprofundamento e modernização na grade curricular.
Em vez disso, a SBF sugere que haja diversificação optativa no ensino médio, com aumento de carga horária para essas disciplinas destinado aos alunos que pretendem seguir carreira técnica ou científica.

Veja a íntegra da carta enviada ao ministro Mercadante.

Ao M.D.
Sr. Dr. Aloizio Mercadante Oliva
Ministro
c/c Dr. Cesar Callegari
Secretário de Educação Básica
Ministério da Educação
Esplanada dos Ministérios
Bloco L - Ed. Sede e Anexos
70.047-900 - Brasília / DF

Sr. Ministro,
Diante das notícias de que o MEC inicia um processo de discussões sobre a reforma do currículo do ensino médio no País com o objetivo de, até o início de 2013, encaminhar proposta de resolução nesse sentido ao Conselho Nacional de Educação (CNE), a Sociedade Brasileira de Física gostaria de apresentar as seguintes considerações:
•    entendemos como necessária uma reforma curricular imediata que leve ao aumento da flexibilidade da escolha de disciplinas por parte dos alunos do ensino médio;
•    existe hoje, de fato, uma enorme carência de profissionais formados em áreas técnicas. Como resultado do avanço da economia do País e da necessidade de uma maior competitividade em sua inserção no mercado internacional, essa carência deverá se tornar ainda mais grave nos próximos anos. Para supri-la, defendemos o aumento da carga horária de disciplinas como matemática, física, química e biologia para aqueles alunos que pretendam seguir carreiras técnicas ou de nível superior nessas áreas;
•    da mesma forma, julgamos necessária uma discussão urgente que vise a modernização do conteúdo dessas disciplinas, de maneira a torná-las mais adequadas à formação de profissionais do século 21 e de maior interesse aos estudantes do ensino médio;
Pelas razões acima, julgamos um retrocesso danoso aos interesses do País a proposta de reunir o ensino de física, química e biologia em uma única disciplina chamada de “ciências da natureza” (ou equivalente). Entendemos que essa opção levaria a que o conteúdo específico de cada uma delas fosse gravemente diluído e, portanto, irremediavelmente comprometido, ao mesmo tempo em que passaríamos a ter dificuldades quase insuperáveis para a formação e atualização de professores na quantidade necessária e com a qualidade mínima indispensável para ministrar tal disciplina.
A Sociedade Brasileira de Física se coloca de pronto à disposição do Ministério da Educação, do Conselho Nacional de Educação e das secretarias estaduais de educação para debater esses pontos e apresentar sua colaboração para que a proposta de resolução a ser definida venha a melhor contribuir para a formação de jovens mais habilitados para o mercado profissional e o exercício da cidadania plena no Brasil das próximas décadas.
São Paulo, 21 de agosto de 2012
Sociedade Brasileira de Física

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nova teoria tenta explicar formação da Lua


Com informações da BBC - 14/08/2012

Teoria de formação da Lua
Simulações computadorizadas e análises de isótopos de diferentes elementos deram origem a uma nova teoria sobre a formação da Lua.[Imagem: Reufer et al.]
Impacto planetário
Cientistas propuseram uma ideia nova no longo debate sobre como a Lua foi formada.
Há um certo consenso de que algum tipo de impacto de outro corpo celeste teria liberado material da jovem Terra, e os detritos resultantes coalesceram naquilo que hoje é a Lua.
Mas os detalhes exatos do tamanho desse projétil cósmico e sua velocidade continuam sendo objeto de discussões.
Agora, pesquisadores estão sugerindo que o evento teria envolvido um corpo muito maior e mais rápido do que se calculava anteriormente para o hipotético planeta Téia (ou Theia).
Teoria da formação da Lua
Essas teorias precisam estar de acordo com o que já sabemos sobre a Lua, sobre os processos violentos que provocam a criação de luas em geral, e com o que as simulações de computador mostram sobre o ajustamento gravitacional que ocorre em seguida a um choque.
Nos últimos anos, as melhores estimativas sobre como a Lua se formou davam conta de que um planeta do tamanho de Marte, chamado Theia, movendo-se com uma velocidade relativamente baixa, teria se chocado contra a jovem Terra.
Isso teria aquecido os dois e lançado uma vasta nuvem de material fundido, material que teria resfriado e aglutinado, fazendo surgir a Lua.
Essa teoria sugere que a Lua seria feita de material tanto vindo da Terra quanto de Theia, materiais que deveriam ser ligeiramente diferentes um do outro.
Fatia da Terra
O que complica essa história é uma série de observações de "composições isotópicas" - os índices de ocorrência de variantes naturais de alguns átomos - colhidas da Terra e de amostras lunares.
Embora a Lua tenha um núcleo de ferro como a Terra, ela não tem a mesma proporção de ferro - e modelos de computador que dão suporte à ideia do impacto de Theia mostram exatamente a mesma coisa.
No entanto, a relação entre os isótopos de oxigênio aqui e lá é quase idêntica, e nem todos os cientistas concordam em como isso pode ter acontecido.
Para confundir ainda mais as coisas, cientistas relataram recentemente na revistaNature Geoscience que uma nova análise das amostras lunares trazidas pelas missões Apollo mostrou que a Lua e a Terra compartilham relações entre os isótopos do metal titânio estranhamente similares.
Isso, segundo eles, deu peso à ideia de que a Lua foi de alguma forma "fatiada" da própria Terra.
Teoria de formação da Lua
A colisão teria resultado em um disco de destroços muito mais quente do que o calculado até agora. [Imagem: Reufer et al.]
Raspão radical
Agora, Andreas Reufer e seus colegas da Universidade de Berna, na Suíça, fizeram simulações que sugerem uma outra possibilidade: a de que um corpo muito maior e mais rápido teria dado um golpe ainda mais radical na jovem Terra.
Eles afirmam que esse corpo teria perdido apenas uma pequena quantidade de material, e a maior parte dele teria seguido seu caminho depois do raspão com a Terra.
Isso teria resultado em um disco de destroços da colisão muito mais quente, mas combina com o que seria necessário para gerar um corpo do porte da Lua.
Os autores sugerem que, uma vez que a maior parte do que viria se tornar a Lua teria sido liberado da própria Terra, as semelhanças entre as proporções de isótopos devem ser mais acentuadas.
Mas uma coisa é certa: análises de diferentes elementos presentes nas amostras lunares - e maiores simulações de computador que resultem em uma lua como a nossa - serão necessários para decidir o debate.
Fonte: Inovação Tecnológica

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cristal do tempo poderá sobreviver ao fim do Universo


Com informações da Physics World - 18/08/2012

Cristal do tempo poderá sobreviver ao fim do Universo
Um cristal do tempo é um sistema que continua se movimentando mesmo isolado, sem depender de força externa, e em seu estado fundamental de energia. [Imagem: Cortesia iStockphoto/M-X-K]
Sobrevivendo ao fim do Universo
Imagine que a entropia finalmente triunfou e, embora o Universo ainda não tenha atingido seu "final definitivo", ele chegou a uma era chamada de "morte do calor", com uma temperatura homogênea - será muito frio por toda parte.
Ainda assim, pode ser possível construir um cristal que continuará "funcionando", sobrevivendo ao resfriamento cósmico - e eventualmente funcionando como uma memória pós-universo.
Essas estruturas exóticas, batizadas de "cristais espaço-temporais", poderão continuar girando de forma persistente, mesmo em seu nível mais baixo de energia, permitindo quebrar tanto a simetria espacial quanto a simetria temporal.
"A ideia está perigosamente próxima da de uma máquina de movimento perpétuo," admite Frank Wilczek, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, idealizador dos cristais do espaço-tempo, referindo-se ao lendário "moto contínuo".
O pesquisador ressalta, porém, que, atingindo seu estado fundamental de energia, esses cristais não poderiam ser usados para produzir trabalho útil, afastando-se da fronteira do irrealizável.
Contudo, eles exigiriam energia externa para serem parados. "Eles poderão gerar uma forma de movimento perpétuo, o que é um pouco assustador para alguém com alguma reputação em física."
Sobre a reputação, Wilczek foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2004.
Cristal do tempo poderá sobreviver ao fim do Universo
Frank Wilczek foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2004 por resolver um dos mistérios da força forte, que mantém coesos os núcleos dos átomos. [Imagem: Nobel Institute]
Cristal quântico do tempo
Os cristais normais são formados por átomos ou moléculas organizados espacialmente em estruturas 3D, estruturas estas que se formam abaixo de uma determinada temperatura a fim de minimizar a energia potencial no interior do material.
Por outro lado, se a temperatura subir, os átomos têm a chance de existir em muitos outros estados desordenados, eventualmente se desorganizando completamente, quando o material se funde.
"Os cristais representam a vitória da energia sobre a entropia," explica Wilczek.
Mas tudo isso se refere à organização espacial do cristal.
Wilczek propõe a organização de um cristal no tempo - um cristal quântico do tempo, como ele o chama.
Diz-se que um cristal normal quebra a simetria espacial porque suas partículas constituintes se alinham em direções específicas, não ficando regularmente espaçadas, como quando o material é aquecido até sua fusão.
De forma análoga, quebrar a simetria temporal significa que as partículas terão que sofrer alterações sistemáticas ao longo do tempo.
Isso já acontece naturalmente, por exemplo, no Sistema Solar, ou nos relógios - mas Wilczek argumenta que esses sistemas foram colocados em movimento por forças externas, e irão eventualmente perder energia e parar.
O que ele propõe é um sistema que continue se movimentando mesmo isolado, sem depender de força externa, e em seu estado fundamental de energia. Terá sido criado, então, um cristal do tempo, ou cristal espaço-temporal.
Cristal do tempo poderá sobreviver ao fim do Universo
Esquema de construção do cristal do tempo, com estruturas periódicas tanto no espaço quanto no tempo. As partículas ficarão rodando em uma direção mesmo em seu estado fundamental de energia. [Imagem: Li et al.]
Anel do tempo
A pergunta imediata é: como construir um cristal do tempo?
Wilczek fez todos os cálculos teóricos, e, ao procurar formas de torná-los realidade, pensou nossupercondutores, materiais que, embora estejam no seu estado mais baixo de energia, transmitem uma corrente elétrica.
Como a corrente elétrica não varia no tempo, Wilczek propôs usar um anel supercondutor, variando a supercorrente de forma a dar-lhe um pico temporal.
Matematicamente ele demonstrou que funciona, mas o pesquisador não conseguiu vislumbrar uma forma de fazer isso na prática, porque exigiria que os elétrons, todos sempre com carga de mesmo sinal, reagissem de forma diferente uns em relação aos outros em um momento determinado, para criar uma espécie de quebra-molas quântico, gerando uma variação na corrente.
Tongcang Li e seus colegas da Universidade de Berkeley leram o artigo, acharam que a ideia não é assim tão estranha, e conseguiram idealizar uma forma de construir efetivamente um cristal espaço-temporal.
Sua proposta é aprisionar íons a temperaturas muito baixas, explorando sua repulsão mútua para que eles se arranjem sozinhos para formar o anel.
Segundo o grupo, o anel seria muito similar a um cristal normal. Por meio de ajustes precisos de um campo magnético, que deve assumir determinados valores ao longo do anel, pode ser possível fazê-lo girar continuamente em seu estado mais baixo de energia.
Em outras palavras, ele se tornaria um cristal espaço-temporal.
O grupo calcula que, para construir um cristal do tempo com 0,1 milímetro de comprimento, serão necessários 100 átomos de berílio, resfriados a 1 bilionésimo de kelvin. Quanto maior o anel, mais baixa é a temperatura necessária.
A tecnologia de armadilhas iônicas ainda não é tão precisa, mas os pesquisadores afirmam que isso é uma questão de tempo, e eles próprios mostram-se interessados em conseguir construir o primeiro cristal do tempo.
Cristal do tempo poderá sobreviver ao fim do Universo
"Este trabalho está explorando novos estados da matéria, e poderá levar a direções inesperadas." [Imagem: Frank Wilczek]
Aplicações do cristal do tempo
E para que serviria um cristal do tempo?
Xiang Zhang, um dos autores da proposta da armadilha de íons, acredita que uma estrutura dessas "dará uma nova dimensão para a exploração da física de muitos corpos e de propriedades emergentes da matéria".
Isso incluiria a quebra de simetria, como a que parece ter dado massa a todas as partículas quando o Universo se expandiu e esfriou.
Wilczek vai um pouco mais longe, e afirma que os cristais do tempo terão aplicações práticas, embora ela não saiba dizer quais: "Este trabalho está explorando novos estados da matéria, e poderá levar a direções inesperadas."
Ele provavelmente já tem algo em mente, mas talvez seja algo radical demais para que a comunidade dos físicos aceite sem mandar que ele vá escrever artigos de ficção científica - ou tente interná-lo.
Afinal, a ciência anda cuidadosamente um passo de cada vez. E propor a possibilidade de construção de um cristal que gire para sempre, sem precisar de energia externa, sobrevivendo até mesmo ao fim do Universo, parece audacioso o suficiente para uma temporada - mesmo para um ganhador do Nobel.
Fonte: Inovação Tecnológica

NASA anuncia nova missão para estudar interior de Marte


Redação do Site Inovação Tecnológica - 21/08/2012

NASA anuncia nova missão para estudar interior de Marte
A InSight é quase uma réplica da Phoenix, variando apenas nos instrumentos, voltados para o estudo do interior de Marte.[Imagem: JPL/NASA]
Marte, Titã e cometa
Nem bem o robô Curiosity começou a disparar seu raio laser nas rochas de Marte e a NASA já se prepara para enviar outra nave para o planeta vermelho.
Ao contrário dos robôs marcianos, a missão InSight consistirá em uma sonda fixa, que pousará em Marte, mas fará seus estudos, com duração prevista de dois anos, sempre no mesmo lugar.
A NASA selecionou a nova sonda em detrimento de duas outras missões, uma para coletar amostras de um cometa e outra para explorar a lua Titã, de Saturno onde recentemente foram encontrados indícios de um oceano.
O objetivo da InSight será estudar o interior de Marte, na tentativa de descobrir porque o planeta não possui placas tectônicas que se deslocam, como na Terra.
Os cientistas esperam que a comparação entre o interior da Terra e o interior de Marte dê informações mais substanciais sobre o processo de formação dos planetas rochosos.
Martemotos
A sonda será quase uma réplica da Phoenix, que pousou em Marte em 2008, mas que funcionou por apenas cinco meses.
A diferença está nos instrumentos, voltados para estudos de subsuperfície.
Um dos instrumentos, a ser fabricado pela agência espacial francesa, vai tentar monitorar "martemotos" - os terremotos de Marte.
A agência espacial alemã, por sua vez, contribuirá com um instrumento para medir o calor que emana do interior de Marte em direção à sua superfície.
A InSight deverá ser lançada em Março de 2016, chegando a Marte em Setembro do mesmo ano.

Fonte: Inovação Tecnológica

Cientistas calculam data do fim do Universo

Baseado em texto de Zhang Xin - 16/08/2012

Cientistas calculam data do fim do Universo
Além da duração prevista do Universo, os cientistas chineses calcularam os eventos finais desse apocalipse cósmico. [Imagem: Lynette Cook/NASA]
Questões fundamentais
A energia escura compõe cerca de 70% do conteúdo atual do Universo.
Por decorrência, é esse mesmo componente desconhecido que detém a chave para o destino final do nosso Universo.
Por milênios, os seres humanos têm ponderado sobre duas questões fundamentais: "De onde viemos?" e "Para onde vamos?", questões que têm estimulado debates filosóficos e teológicos.
Graças ao rápido desenvolvimento da cosmologia nas últimas três décadas, os cientistas também obtiveram algumas pistas importantes para arriscar algumas respostas a essas perguntas.
É o que um grupo de cientistas chineses está tentando fazer agora.
Cientistas calculam data do fim do Universo
Uma simulação do Universo chamada DEUS está tentando desvendar como o Universo veio do início até hoje. [Imagem: Deus Consortium]
Grande Ruptura
O modelo padrão "Inflação + Big Bang quente" foi desenvolvido para explicar a origem do Universo.
No entanto, para prever o destino final do Universo, os pesquisadores perceberam que a chave está na natureza da energia escura.
Na ausência de um consenso sobre o que seja a energia escura, uma descrição fenomenológica do parâmetro w da equação de estado da termodinâmica - a relação entre a pressão e a densidade da energia escura - pode fornecer um bom caminho para investigações sobre a dinâmica da energia escura, ou de como ela se comportará ao longo do tempo.
Em particular, se w for menor do que -1 (w < -1) em algum momento no futuro, a densidade da energia escura vai crescer até o infinito em um tempo finito, e sua repulsão gravitacional vai rasgar todos os objetos no Universo.
Essa "Grande Ruptura" - uma espécie de apocalipse cósmico - é o foco principal da análise de Li XiaoDong e seus colegas da Universidade de Ciência e Tecnologia da China: "Queremos inferir, a partir dos dados atuais, qual seria o pior destino para o Universo," escreveram eles.
Para prever esse destino trágico, é importante escolher uma parametrização adequada, que cubra toda a história da expansão geral do Universo.
A mais popular, a parametrização Chevallier-Polarski-Linder (CPL), na verdade não é adequada para prever a evolução futura do Universo porque nela w irá divergir quando o parâmetro de desvio para o vermelho se aproximar de -1.
Assim, os autores lançaram mão de uma parametrização livre de divergências, chamada parametrização Ma-Zhang (MZ), para prever a evolução do Universo.
Quanto tempo falta para o fim do mundo?
Uma das questões mais intrigantes é: "Se houver um apocalipse final, quão longe estamos dele?"
Depois de restringir o espaço do parâmetro MZ através de uma técnica Monte Carlo via Cadeias de Markov, os autores concluíram que, usando os atuais dados observacionais, o fim do Universo pode ser expresso pela fórmula:
Cientistas calculam data do fim do Universo
Contudo, para o nível de confiança de 95,4%, os dados indicam outro resultado:
Cientistas calculam data do fim do Universo
"Em outras palavras, na pior das hipóteses (95,4% CL), o tempo restante antes do Universo acabar em uma Grande Ruptura é de 16,7 bilhões de anos", disseram os autores.
Cientistas calculam data do fim do Universo
Quintessência é uma forma hipotética de energia escura, proposta como sendo a quinta força fundamental. Phantom é uma forma hipotética de energia escura quando a equação de estado permanece fica menor do que -1. E quintom é um cenário traçado nessa hipótese de w < -1. [Imagem: XiaoDong et al.]
O que ocorrerá antes do fim do mundo?
Assim, o parâmetro de espaço restrito indica que é muito provável que, no futuro, w será menor do que -1.
Se assim for, pode-se fazer outra pergunta interessante: "Qual será o destino dos objetos do Universo unidos gravitacionalmente, como galáxias e estrelas?"
Na verdade, se w de fato se tornar menor que -1, a repulsão gravitacional da energia escura vai aumentar continuamente até superar todas as forças que mantêm coesos os objetos celestes - e todos os objetos celestes serão dilacerados.
Nenhum objeto escaparia desse destino. Obviamente, sistemas mais fortemente ligados teriam alguma sobrevida.
Utilizando a parametrização MZ, os autores especularam sobre uma série de possíveis consequências antes desse dia do juízo final cósmico.
Por exemplo, para a pior situação - o limite inferior 95,4% CL -:
  • a Via Láctea será dilacerada 32,9 milhões de anos antes da Grande Ruptura;
  • dois meses antes do fim do mundo, a Terra será arrancada do Sol;
  • cinco dias antes do dia do juízo final, a Lua será arrancada da Terra;
  • o Sol será destruído 28 min antes do fim do tempo;
  • e, 16 min antes do fim definitivo, a Terra vai explodir.
Ou seja, embora estejamos literalmente no escuro sobre as propriedades dinâmicas da energia escura, uma coisa fica clara: teremos pela frente um futuro mais duradouro do que o passado que deixamos para trás.
Fonte: Inovação Tecnológica

sábado, 18 de agosto de 2012

MEC vai propor a fusão de disciplinas do ensino médio

O Ministério da Educação prepara um novo currículo do ensino médio em que as atuais 13 disciplinas sejam distribuídas em apenas quatro áreas (ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática).
Mudança é boa, mas difícil de aplicar, dizem educadores
Enem será o modelo do novo currículo, afirma Mercadante
A mudança prevê que alunos de escolas públicas e privadas passem a ter, em vez de aulas específicas de biologia, física e química, atividades que integrem estes conteúdos (em ciências da natureza).
A proposta deve ser fechada ainda neste ano e encaminhada para discussão no Conselho Nacional de Educação, conforme a Folha informou ontem. Se aprovada, vai se tornar diretriz para todo o país.

Editoria de arte/Folhapress
Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os alunos passarão a receber os conteúdos de forma mais integrada, o que facilita a compreensão do que é ensinado.
"O aluno não vai ter mais a dispersão de disciplinas", afirmou Mercadante ontem, em entrevista à Folha.
Outra vantagem, diz, é que os professores poderão se fixar em uma escola.
Um docente de física, em vez de ensinar a disciplina em três colégios, por exemplo, fará parte do grupo de ciências da natureza em uma única escola.
Ainda não está definida, porém, como será a distribuição dos docentes nas áreas.
A mudança curricular é uma resposta da pasta à baixa qualidade do ensino médio, especialmente o da rede pública, que concentra 88% das matrículas do país.
Dados do ministério mostram que, em geral, alunos das públicas estão mais de três anos defasados em relação aos das particulares.
Educadores ouvidos pela reportagem afirmaram que a proposta do governo é interessante, mas a implementação é difícil, uma vez que os professores foram formados nas disciplinas específicas.
O secretário da Educação Básica do ministério, Cesar Callegari, diz que os dados do ensino médio forçam a aceleração nas mudanças, mas afirma que o processo será negociado com os Estados, responsáveis pelas escolas.
Já a formação docente, afirma, será articulada com universidades e Capes (órgão da União responsável pela área).
Uma mudança mais imediata deverá ocorrer no material didático. Na compra que deve começar neste ano, a pasta procurará também livros que trabalhem as quatro áreas do conhecimento.
Organização semelhante foi sugerida em 2009, quando o governo anunciou que mandaria verbas a escolas que alterassem seus currículos. O projeto, porém, era de caráter experimental.

Fonte: Folha de São Paulo